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Considerações sobre a vacinação de filhotes de gatos Leonardo P. Brandão, MV, MSc, PhD Gerente de Produtos Animais de Companhia Merial Saúde Animal Os primeiros meses de vida são considerados críticos para os filhotes de gatos devido ao maior risco de serem acometidos por doenças infecciosas, o que torna o procedimento vacinal tão importante na primeira-idade. Deste modo, objetiva-se imunizar os animais antes que sejam expostos a patógenos.1 Os anticorpos maternos são fundamentais para proteger os filhotes contra agentes infecciosos, principalmente nas primeiras semanas de vida; no entanto, interferem com os antígenos vacinais, prejudicando o processo de imunização.2 A concentração sérica de anticorpos maternos capaz de interferir com a vacina varia para cada antígeno vacinal, assim como o tempo que permanecem na circulação. Sabe-se, por exemplo, que os anticorpos maternos contra o vírus da panleucopenia felina possuem meia-vida de 9,6 dias, podendo permanecer na circulação por 8 a 14 semanas, período em que a vacinação, e consequentemente a imunização, pode ser prejudicada.2 Filhotes de uma mesma ninhada podem possuir diferentes títulos de anticorpos maternos num dado momento. Alguns gatinhos podem apresentar quantidades muito baixas ou até mesmo inexistentes de anticorpos já com 6 semanas de vida.3 Alguns estudos sugerem que a interferência dos anticorpos maternos pode persistir por períodos maiores do que 14 semanas de vida.2-4 Quando consideramos a vacinação na prática clínica, em que não conhecemos a quantidade de anticorpos que cada filhote recebeu da mãe, e não se sabe quando estarão susceptíveis à doenças, preconiza-se um protocolo geral que consiste na primo-vacinação a partir de 6 a 8 semanas de vida (primeira dose) com doses subsequentes com intervalos de 3 a 4 semanas, devendo-se finalizar com 16 semanas de vida.5 A Associação Americana de Especialistas em Medicina Felina (AAFP) possui especificações sobre a conduta de vacinação de gatos que podem ser consultadas.5 A decisão de vacinar contra a FeLV Apesar da vacinação contra a leucemia felina ser considerada opcional em gatos adultos nos Estados Unidos, a vacinação de todos os filhotes é fortemente recomendada pela AAFP.5 Um estudo com infecção experimental pelo vírus da leucemia felina demonstrou que a susceptibilidade dos animais reduz ao longo do tempo, sendo os filhotes os mais acometidos.6 Nesse estudo foi detectada viremia persistente em 100% dos filhotes infectados ao nascer, em 85% dos filhotes expostos ao FeLV entre 2 semanas e 2 meses de vida e apenas em 15% dos gatos infectados a partir de 4 meses de idade.6 Escolhendo a vacina correta Alguns componentes presentes nas vacinas, como conservantes e adjuvantes, podem contribuir para o desenvolvimento de inflamação no local da aplicação.2 A inflamação crônica tem sido incriminada como um fator potencial no desenvolvimento de sarcomas associados às vacinas.7 Embora a(s) causa(s) definitiva(s) do desenvolvimento desses sarcomas ainda seja incerta, a AAFP sugere que se dê preferência ao uso de produtos que causem menos inflamação no ponto de vacinação sempre que possível.5 Os produtos atualmente disponíveis são vacinas inativadas (mortas), vacinas contendo o vírus vivo-atenuado e vacinas recombinantes vetoriais. As vacinas inativadas normalmente requerem a adição de adjuvantes para potencializar a resposta imune nos animais vacinados. Já a maioria das vacinas recombinantes e das vacinas vivas-atenuadas são capazes de estimular a resposta imune sem a necessidade de adjuvantes. As vacinas recombinantes que utilizam o poxvírus como vetor induzem imunidade protetora sem a necessidade do uso de adjuvantes. 1 Discutindo sobre a vacinação dos filhotes de gatos com os proprietários Qualquer protocolo de vacinação, para que seja bem sucedido, deve contar com a participação e apoio do proprietário. Ele é quem vai se responsabilizar por trazer o animal para a próxima vacinação e para as revacinações anuais. Os proprietários devem estar conscientes da necessidade de vacinar os animais, sendo ainda instruídos sobre possíveis reações pós-vacinais - como as reações alérgicas, as reações anafiláticas e os sarcomas pós-vacinais - para que possam entrar em contato ou trazer o animal para avaliação caso seja necessário. Devemos lembrar que a reação pós-vacinal mais comum é um quadro de prostração e febre de baixa intensidade, com duração aproximada de 24 horas. Essa é uma reação normal e corresponde à resposta do organismo à estimulação antigênica. Caso seja necessário, pode-se prescrever o uso de analgésicos ou até antiinflamatórios não esteróides - como a dipirona - para aliviar esses sintomas. Alguns animais podem desenvolver um pequeno nódulo no local da vacinação que costuma ter resolução espontânea em até 2 semanas. Entretanto, um nódulo que persista por mais de 3 meses ou que comece a crescer deve ser tratado como possuindo risco potencial de se transformar num sarcoma pós-vacinal (Quadro 1). Vale lembrar que a vacinação sempre é o melhor procedimento a ser adotado para gatos, pois, o risco do desenvolvimento de neoplasias no ponto de aplicação é considerado baixo (aproximadamente 1 a 2 casos para cada 10.000 gatos vacinados8,9) quando comparado ao risco deste filhote vir a ser exposto a algum agente infeccioso grave ou até mesmo fatal.10 A abordagem 3-2-1 para nódulos pós-vacinais em gatos A maioria dos nódulos pós-vacinais tem resolução espontânea em poucas semanas, entretanto, quando se trata de gatos, deve-se sempre tomar cuidado com seu aparecimento. A regra 3-2-1 permite abordar de forma sistemática os nódulos pós-vacinais em gatos. Qualquer nódulo pós-vacinal deve ser submetido a exames investigativos (citologia aspirativa ou biópsia excisional) caso: Persista por mais de 3 meses após a vacinação; Tenha mais de 2 cm de diâmetro; Continue a crescer mesmo 1 mês após a vacinação. Em tempo, devemos sempre argumentar que a vacinação é um procedimento considerado fundamental mesmo para filhotes que vivam em ambientes fechados, sem acesso à rua. Deve-se lembrar que os proprietários ou outras pessoas que convivam com o animal podem carrear vírus para dentro da casa (como o vírus da panleucopenia felina ou alguns vírus responsáveis por causar quadros respiratórios11). Alguns filhotes podem ainda ser expostos a agentes infecciosos quando entram em contato com outros animas doentes, quando vão ao banho e tosa ou quando vão viajar, o que torna o procedimento vacinal fundamental para a proteção destes animais. 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Richards, J, Rodan I: Feline vaccination guidelines. Vet Clin North Am Small Anim Pract (31)3:455-472,2001. 2. Greene, CE, Schultz RD: Immunoprophylaxis. In: Greene CE (ed): Infectious diseases of the dog and cat, ed.3. St. Louis, Saunders Elsevier, 2006. pp.1069-1119. 3. Dawson S, Willoughby K, Gaskell R, et al: A field trial to assess the effect of vaccination against feline herpesvirus, feline calicivírus and feline panleukopenia virus in 6-week-old kittens. J Feline Med Surg 3:17-21, 2001. 4. Reese MJ, Patterson EV, Tucker SJ, et al: The effect of anesthesia and surgery on serological responses to vaccination in kittens. JAVMA 233(1):116-121, 2008. 5. AAFP Advisory Panel: The 2006 American Association of Feline Practitioners Feline Vaccine Advisory Panel Report. JAVMA 9(1)1405:1441, 2006. 6. Hoover EA, Olsen RG, Hardy WD Jr, et al: Feline leukemia virus infection: age related variation in response of cats to experimental infection. J Natl Cancer Inst 57:365-369,1976. 7. Macy DW, Hendrick MJ: The potential role of inflammation in the development of postvaccinal sarcoma in cats. Vet Clin North Am 26(1)103-108, 1996. 8. Kass PH, Barnes, WG Jr, Spangler WL, et al: Epidemiologic evidence for a causal relation between fibrosarcoma and tumorgenesis in cats. JAVMA 203:396-405, 1993. 9. Esplin DG, McGill LD, Meininger AC, et al: Postvaccination sarcomas in cats. JAVMA 202:1245-1247, 1993. 10. Tizard IR: the uses of vaccines. In: Veterinary Immunology: an introduction, St Louis, Saunders Elsevier, 2009, pp. 270-285. 11. Gaskell RM, Dawson S, Radford A: Feline respiratory disease. In: Greene CE (ed): Infectious diseases of the dog and cat, ed.3. St. Louis, Saunders Elsevier, 2006, pp. 145-154. 3